NEGUINHO

(no prelo)

 

O romance “Implosões e Variedades” é um  mergulho na alma de um adulto jovem inquieto e atormentado.

 

Sem altura, sem profundidade, sem som, sem luz. Algo diferente. Uma espuma sem tamanho, uma névoa, uma sopa de movimentos de elementos impalpáveis.

Para dize-lo é necessário inventar algo, uma substância, uma história, em outras palavras uma mentira.

Enzo percebeu-se  nadando num mar de pontos frenéticos, com a percepção pasmada pela indistinção de si próprio e da possível inexistência. Os dramas estão superados, o fim reina absoluto. Enzo movia-se na grande mentira e viu de perto que a informação aparentemente inequívoca de que todos existimos é simplesmente equivocada. E, contemplativo, diluía-se na verdade convencionada, perdida no tempo aleatório e inconcebível. Nesse local improvável onde atuam forças vive-se  como se a vida existisse.

Enzo percebeu-se no plasma furioso. Agora, eram emanações um tanto mais misteriosas, repletas de mundo, de todas as coisas do mundo. Era atravessado por velocidades, às quais, após um momento  infinito e em função de sua vocação inclemente de criar associações pouco evidentes, começou a atribuir características. Absolutamente convicto de estar errado intuiu agrupamentos ridículos que condensavam e diluíam-se. Enzo admitiu que tudo se vulgarizava. Até mesmo pretendeu separar o dia da noite, a luz das trevas. Mas conseguiu saltar fora , e, de pernas para o ar, rodava dentro de algo que rodava em torno de algo que rodava. Havia ali um campo. Se não era infinito, era gigantesco, mas Enzo não tinha nada a temer. Estava em algo muito semelhante ao caos, mas vamos fantasiar que mesmo nessa situação extrema Enzo, que todos sabemos que não existe, podia ter alguma aglutinação metafórica.

Passemos para a visão de um universo negro e profundo, um hiperespaço  impessoal. E então no silêncio absoluto tornei-me espectador de um show de formas caleidoscópicas. Sobre o vasto fundo escuro surgiram arestas luminosas coloridas; uma evolução de formas geométricas suspensas. Cubos transformavam-se em poliedros e  descreviam rotações. O grande tamanho das formas sublimes e seu desenvolvimento independente tornaram-me pequeno e humilde. As formas geométricas deram lugar a imagens estáticas e o silêncio parecia ainda mais completo. Surgiram serpentes e esqueletos humanos, nada amedrontadores que transformavam-se muito lentamente. Não tinham significado. E então, paisagens esquadrinhadas, perspectivas e pontos de fuga elegantes. Cálculos perfeitos. A imensidão ganhou uma densidade transparente. Olhei para meu corpo e podia ver meu coração sob a pele, como uma lâmpada incandescente azulada.

Estados distintos, e nada estava exatamente em algum lugar. Estamos além da contemplação decente, pasmos na indiferença cega, na ausência absoluta de projetos. Sem intenção, aquém  da mente, talvez apenas alguma química indefinível.

Algo surge à grande distância. Um modelo ou uma imitação que se aproxima. Escureceu num contínuo suave e ininterrupto. Adeus.

 

 

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