PLANET HEMP

Por Guga Stroeter

Essa crônica bem-humorada de Guga Stroeter foi publicada na revista Música.

Em 1995, convidado por amigos, assisti a um dos primeiros shows do Planet Hemp em São Paulo. Eu sabia que eles faziam algo entre o rap e o funk, mas não tinha a menor idéia de que as letras tratavam sobre drogas. O grupo ainda não chamava a atenção do grande público e da mídia, talvez por isso o ambiente estivesse tão relaxado.

Quando os músicos entraram no palco e atacaram os primeiros acordes, para minha surpresa algumas pessoas do público acenderam "baseados" na maior cara-de-pau. Eu conhecia o gerente da casa e fiquei a seu lado, curioso para ver qual seria sua atitude. O gerente não se apavorou: juntou os seguranças e pediu a eles que circulassem pela platéia e educadamente solicitassem aos consumidores de maconha que apagassem e guardassem seus cigarros, pois poderia haver policiais na platéia. Dito e feito. Passaram-se dois minutos e um garotão veio à gerência dizendo-se policial e ameaçou fechar a casa e prender todo mundo. Continuei por ali para acompanhar mais uma vez a reação do gerente. Ele não teve dúvidas, e rapidamente ordenou a um garçom que servisse duas garrafas de scotch como cortesia da casa para o pretenso policial e seus amigos. Assim a situação foi contornada e o concerto transcorreu sem maiores incidentes.

Acompanhei o final da noite da sala da gerência, donde se via os músicos e a platéia satisfeitos retornando pacificamente para o aconchego de seus lares enquanto os "homens da lei" gritavam e bebiam whisky no gargalo. Não bastasse esta situação inusitada, um cidadão dizendo-se jornalista bateu à porta da gerência. O homem de imprensa esfregou a conta que incluía o consumo dele e de sua turma na cara do gerente e disse de maneira muito clara: "ou você me libera ou eu acabo com sua casa noturna na minha revista". O gerente assinou a nota e o jornalista saiu sem pagar.

Moral da história: nesse show memorável os "drogados" que deveriam promover arruaças comportaram-se exemplarmente, enquanto que a polícia, que deveria assegurar a ordem, embriagou-se e deu vexame. E para fechar com chave de ouro, o jornalista, que deveria trabalhar a serviço da verdade demonstrou-se um chantagista inescrupuloso. E o Planet Hemp, de sua maneira peculiar, desnudou placidamente mais uma faceta desse polimorfo perverso chamado Brasil.

© 2002, Guga Stroeter All rights reserved.
Unauthorized duplication prohibited.

[Menu] [Agenda] [Release] [Currículo] [Videos] [Fotos] [Espetáculos]
[Guga & Heartbreakers] [HB Tronix] [Nouvelle] [Discografia] [Partituras]
[Espaços Culturais e Casas Noturnas] [Textos] [Contato] [E-mail] [Orkut] [MySpace]